segunda-feira, 22 de abril de 2013

Notícia triste

por Márcio Zago

Ficamos tristes em saber do falecimento de Aloysio Raulino. Raulino foi um dos mais importantes fotógrafos do cinema brasileiro e quem fez a fotografia do curta metragem Oi Lá no Céu !, realizado pelo Garatuja em parceria com a Associação Cachuera! O que me chamou a atenção em seu trabalho foi a sutileza de gestos e atitudes ao registrar as congadas de Atibaia. Trata-se de um tema "delicado" pela circunstância que envolve a comunidade, formada basicamente por pessoas simples, tímidas e envolvidas num contexto de devoção e religiosidade. Sua postura foi fundamental para colher as imagens e depoimentos de forma tão natural e autênticas presentes no vídeo. A luz, a sombra, a cor, as granulação e outras sutilezas visuais, somam-se à postura, à sensibilidade, que faziam dele um dos mais considerados fotógrafos e diretores brasileiros. Bem diferente do vídeo feito meses depois, sobre o mesmo tema,  por equipes das oficinas promovidas por uma das administrações anteriores. Nele, a fotografia foi realizada de forma totalmente invasiva. Preferi sair de perto com tal desrespeito. A cinegrafista parecia que estava filmando uma passista de escola de samba, percorrendo, de cima abaixo o corpo dos dançantes a menos  de 20 cm de distância...foi constrangedor. A propósito, pincei numa revista chamada Filme Cultura, de 1981, editada pela antiga Embrafilme, um trecho da entrevista cedida por Aloysio Raulino onde ele comenta sobre a postura de outro fotógrafo, mas a definição cabe perfeitamente a si próprio: "Zé Medeiros sabe, com uma total percepção, de que não deve se impor a nada, deve ser justamente um grande técnico; uma grande sensibilidade, uma grande dialética para o realizador. Eu acho que esse é um exemplo de cinema, de um fotografo". Era dele os curtas Noites Paraguaias, Jardim Nova Bahia, O Tigre e a Gazela  e outros. Fotografou ainda os filmes Prisioneiro da Grade de Ferro, de Paulo Sacramento, Serras da Desordem, de Andrea Tonacci  e O Homem que Virou Suco, Greve e Travessia de Joao Batista de Andrade, entre muitos outros.  A direção do vídeo Oi Lá no Céu ! foi de Rubens Xavier e a edição de Fernando Andrade, filho do João Batista de Andrade. Segue o  link: http://www.curtadoc.tv/curta/index.php?id=929




Le Paysagiste, um clássico.

Em 1930 o russo Alexander Alexeieff inventou uma forma originalíssima de fazer animação, a tela de pinos, também conhecida como pinscreen. Alexander, além de animador, era artista plástico e isso  fica evidente nos filmes que realizou. Embora classificado como animação de objetos tridimensionais, seu trabalho lembra mais um desenho a carvão, ou mesmo a gravura em metal. Essa técnica consiste em manipular milhares de pinos, ou alfinetes, atravessados numa chapa branca. Esses pinos podem ser colocados em diferentes posições e quando iluminadas lateralmente emitem sombras, que em contraste com o fundo branco, criam infinitos tons de cinza. Até mesmo o ferramental desenvolvido pelo Alexander é muito próximo da gravura, como o rolinho e o brunidor usados na calcogravura. Apesar do incrível efeito plástico que a técnica produz, ela tem algumas limitações. Por ser absolutamente original, tornou-se uma marca, uma matriz, que confere ao efeito um resultado que dificilmente será dissociado de seu criador. Quando vi Le Paysagiste pela primeira vez, jurei que era de Alexander Alexeieff, mas na verdade era de Jacques Drouin. Ele herdou a técnica de Alexander quando passou pelo National Film Board of Canada, nos anos setenta, e mantém viva essa técnica até os dias de hoje, indiferente de todo aparato tecnológico dos meios digitais. Le Paysagiste, feito em 1976, é muito bonito e um clássico da animação. Indispensável para quem quer conhecer o que de melhor se produziu no gênero.